domingo, 30 de julho de 2017

TORNEIOS DE XADREZ: COMO CONTROLAR O NERVOSISMO?

Um enxadrista me perguntou o seguinte, em um dos tópicos sobre xadrez que escrevi neste blog:

“Parabéns prof. André pelo embasamento na nossa paixão o xadrez! gostaria de saber o que o sr. indicaria para o controle emocional que é fundamental em uma competição. Grato!”.

Respondi-lhe:

Boa pergunta! Como controlar o nervosismo e a ansiedade? Parte do nosso nervosismo, penso eu, ocorre porque não fizemos o dever de casa, antes de um torneio. O que seria esse dever de casa?
Bem, se vai jogar contra jogadores que já possuem partidas publicadas, fazer uma pesquisa delas, apurando o estilo de seus adversários mais perigosos, as aberturas que eles usam, se cometem erros táticos, se cometem apuros de tempo etc.
Rever pelo menos uns dez esquemas rápidos de aberturas antes dos torneios (aqui eu lhe indico meu tópico sobre como preparar um repertório de aberturas).
No meu caso também ajudou muito a prática do Budismo, os mantras budistas, com frequência. Mas já soube que a yoga funciona muito bem para acalmar os nervos.
Evite chegar muito cedo ao local de jogo. Eu sempre chego faltando 15 minutos para as partidas, salvo o primeiro dia, que tem congresso técnico e tem de se chegar mais cedo.
E evito ficar jogando relâmpagos antes das partidas do torneio. Sou da opinião de que local de torneio não é lugar para se ficar jogando amistosas e relâmpagos.
Outra coisa: repita sempre para a sua mente o seguinte "minha obrigação é apenas jogar cada vez melhor, não sou obrigado a vencer sempre".
Espero ter ajudado.

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Pareceu-me uma boa resposta, sendo imodesto. Valendo inclusive a criação de um tópico sobre esse assunto.

Nesses 27 anos em que jogo xadrez, percebi que há jogadores de todos os tipos... Mas o nervosismo ataca a todos, indistintamente e controlar esse nervosismo, além de estudar bastante e jogar bastante, pode ser a diferença entre ganhar ou perder um torneio.

Controle seu nervosismo!
Evite durante um torneio, comentar partidas alheias lá fora, entre os demais jogadores (isso já me colocou em cada briga, que vocês não fazem ideia).
Evite também ir para noitada de um dia para o outro de um torneio, quando haverá novas partidas.
Evite a presunção de achar que já venceu, ao enfrentar um jogador mais jovem, porque pode ser um mestre de 14, 15 anos de idade (hoje está cada vez mais fácil esses adolescentes chegarem a esse nível em tenra idade). Depois da partida, evite ficar analisando-a no local do torneio, ainda que o seu adversário insista nisso.
Leve, se o torneio permitir, uma barra de cereal e uma garrafa de suco, para consumir durante a partida, isso acalma o estômago e a mente.
Acautele-se contra certas "malandragens" de alguns adversários em torneios, por exemplo:
1) Já vi um jogador, jogando partidas relâmpago, que usava "truques de mágico" e movia os seus cavalos não em L de 3 casas, mas de 4 casas! E seus adversários não percebiam isso porque ele escondia a peça com seus dedos... Como tais partidas não costumam ser anotadas, nem há tabuleiros digitais em todo torneio, sua malandragem passou despercebida por anos...
2) Jogador que fica andando ao redor da mesa de jogo, para desestabilizar seu adversário (idiotice fazer isso, queixe-se para o diretor do torneio imediatamente!)...
3) Jogador que fica pedindo "j'adoube" (licença para arrumar as peças) muitas vezes, para irritar...
4) Jogador que fica se inclinando sobre o tabuleiro constantemente, para olhar o relógio, quando seu adversário tem a vez de jogar (Luiz Ney Menna Barreto alerta para essa malandragem em seu livro CURSO SIMPLIFICADO DO JOGO DE XADREZ)...
5) Executar lances ilegais sobre o tabuleiro, propositalmente (felizmente hoje o manual de regras da FIDE já tem punições para isso)...
6) Adversário que fica anotando na planilha, a lápis (porque à caneta não pode) sequências de lances que analisou, como forma de desviar a atenção do adversário e conduzi-lo a erro com sequências que não pretende usar...Conselho meu: dever do jogador é analisar a posição sobre do tabuleiro, não entre nessa de analisar planilha de adversário...
Recomendo neste final de texto: LEIA AS REGRAS DA FIDE ANTES DE JOGAR UM TORNEIO, pois lá há regras, novas inclusive, que se o jogador desconhece, poderá ser punido inclusive com a eliminação do torneio.

Fique esperto!

sábado, 1 de julho de 2017

FORMATO IDEAL PARA LIVROS DE XADREZ


Parece um preciosismo da minha parte, mas como me perguntaram isso, já que escrevi alguns artigos sobre o tema xadrez, publicados aqui no blog, resolvi apresentar uma opinião.

Qual o formato ideal para um livro de xadrez?

Sem delongas e sem enrolação, deveria ter o tamanho do livro da foto acima, ou seja, pocket (18/19 cms por 12/13 cms), como foi aquela edição econômica do livro Xadrez Básico, do Dr. Orfeu D'Agostine, pela Editora Ediouro, acima.

Essa edição era ideal para o estudo, porque se podia colocar o livro aberto, na frente de um tabuleiro padrão de xadrez, sendo que não atrapalhava o estudo, uma vez que as mãos do estudante conseguiam manusear as peças mesmo estando na última fileira do tabuleiro.


Não sei como escritores de xadrez não pensam nisso ANTES de editarem seus livros... Vemos livros de xadrez com 25 cms de altura, por 17 de largura... Às vezes, com 30  cms de altura, o que dificulta o estudo, sendo que temos de, ou erguer o livro na frente dos olhos, ou pô-lo do lado do tabuleiro, o que dificulta o estudo.

Recomendo que o miolo do livro seja reforçado e as folhas costuradas à lombada, porque como se manuseia muito o livro, as folhas tem a tendência de se desprenderem.

Recomendo, ainda, que se use o tipo Arial, em vez de Times New, porque este último, quem tem problemas de visão, miopia, eu por exemplo (rs), acaba confundindo a anotação da letra "e" por "c", exemplo Ce3/Cc3.

Falando nesse livro do Dr. D'Agostine, também me perguntam por que não o indico aqui no Blog. Olha, tenho um carinho imenso por esse livro, porque foi o primeiro que estudei que, de fato, melhorou alguma coisa no meu jogo. O livro acerta em dividir seus capítulos em finais, meio-jogo e aberturas e começa convidando o estudante a compreender os finais, o que é mais acertado ainda. Devemos estudar os finais primeiro, depois o meio-jogo e depois as aberturas.

Mas eu acho que surgiram novos livros, que tratam das 3 fases de forma mais eficaz e clara. Acho que no meio-jogo do Xadrez Básico, o autor misturou tática com estratégia, o que confunde um pouco. Penso que sobretudo nessa fase, o livro peca por não ter recolhido o que há de melhor em livros que inclusive antecederam o Xadrez Básico, como O Jogo de Posição do Eliskases, Meu Sistema do Nimzowitch e o livro de Estratégia do Pachman, cuja edição primeira, salvo engano, é de um ano antes do Xadrez Básico. (veja nesse tópico os livros que indico: http://andregreff.blogspot.com.br/2015/04/os-melhores-livros-de-xadrez.html)

Tive por experiência prática: meus alunos evoluíram mais estudando o Meu Sistema, do que o Xadrez Básico, e olha que o Meu Sistema é de 1925!

Claro que lhes passei o básico também sobre finais e aberturas, usando para isso apostilas. O livro do Nimzowitch entrava como primeira sugestão de compra para estudo em casa.

Mas isso não tira o mérito do Xadrez Básico, que foi de fato, o primeiro grande livro de xadrez do Brasil.  Algum GM deveria revisá-lo, penso eu, dividindo o meio-jogo em tática e estratégia, atualizando seu curso de aberturas e aumentando o número de diagramas de finais.


Vivo insistindo nisso com um amigo, no sentido de que não 'lemos' livros de xadrez. Estudamo-los! São para serem estudados, ao menos quando trazem sequências de lances, dando a eles o necessário tempo de nossas vidas, em que repassamos diagrama por diagrama, sequência por sequência de lances, isso usando um tabuleiro físico de xadrez. É trabalhoso, mais trabalhoso do que simplesmente 'ler'. Claro que há livros de Xadrez para serem lidos, mas são de biografia de algum grande mestre.

É isso.